Carlos Tavares diz a verdade após o seu despedimento da Stellantis "a indústria automóvel é extremamente violenta".

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Há quase um ano, a manchete dizia: " Thunderclap em Stellantis: Carlos Tavares demitiu-se ". Um ano depois, o antigo patrão do grupo automóvel franco-italiano-americano quebrou o silêncio. Numa longa entrevista ao Le Point, por ocasião da publicação do seu livro Un pilote dans la tempête, Carlos Tavares revela a verdade sobre a sua partida repentina, as suas divergências com John Elkann e a sua visão muito sombria do futuro industrial da Europa.

"Não gostei da comunicação nauseabunda que dizia que eu tinha sido despedido".

O antigo executivo, atualmente com 67 anos, falou com o jornalista Olivier Ubertalli na sua cidade natal, Tomar, em Portugal. Sempre hiperativo, divide agora o seu tempo entre o restauro de automóveis clássicos, a gestão de hotéis e a preparação de carros de corrida.

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Mas no seu discurso, a amargura mantém-se.

"Numa noite de dezembro, quando estava no circuito do Estoril, John Elkann telefonou-me e disse-me que tinha perdido a confiança em mim. A confiança é uma via de dois sentidos. Eu estava lá para executar um plano validado e disseram-me: não, tens de empatar e voltar às boxes.

Carlos Tavares insiste que já saiu Stellantis por convicção e não por coação. Rejeita a versão de um despedimento disfarçado:

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"Não gostei da comunicação nauseabunda que dizia que eu tinha sido despedido".

Na sua opinião, o verdadeiro desacordo era sobre a estratégia para a eletricidade. Enquanto alguns membros do Conselho de Administração queriam abrandar, ele queria acelerar a transição para não "perder o ponto de viragem do século".

Um sector "extremamente violento

O antigo patrão da PSA e da Stellantis, conhecido pela sua franqueza e rigor como gestor, não esconde a sua visão pessimista do sector automóvel.

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"A indústria automóvel é extremamente violenta. Está em vias de perder o controlo do seu destino devido a factores externos como tarifas, regulamentações, questões geopolíticas...".

Na opinião de Tavares, os actuais gestores estão encurralados entre os reguladores, os investidores e a opinião pública. E acredita que muitas pessoas talentosas vão abandonar o sector nos próximos anos, fartas de um ambiente que se tornou "tóxico" e "ingrato". Prevê mesmo uma "consolidação brutal e feroz" do sector automóvel europeu, transformando o automóvel num simples objeto de consumo, "como um frigorífico".

"Ser chefe é um trabalho extremamente arriscado".

Carlos Tavares foi criticado pelo facto de ter deixado o Stellantis por uma quantia estimada em 35 milhões de euros, mas está plenamente de acordo com a sua remuneração, que justifica com o nível de risco inerente ao cargo.

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"Ser patrão é um trabalho extremamente arriscado. Porque é que aceitamos que um jogador de futebol ganhe 100 milhões por ano, mas não aceitamos que um patrão ganhe 20 milhões?

O antigo diretor-geral recorda que foi corretor de bolsa do Estado francês e que vê a reviravolta da PSA como o pagamento dessa dívida à França. Mas hoje, diz duvidar da capacidade de reforma do país.

"Será que a França se safa? Tenho sérias dúvidas. Poderá reformar-se sem violência? Não tenho a certeza.

"Ao deixarmos de aceitar o sucesso, conduzimos ao fracasso".

No seu livro, Tavares denuncia uma sociedade que, na sua opinião, rejeita o mérito e o trabalho árduo.

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"Pobre empresa que já não aceita que um executivo tenha 90 % do seu salário indexado aos resultados. Ao deixarmos de aceitar o sucesso, conduzimos ao fracasso.
Trata-se de uma crítica direta a Emmanuel Macron, que criticou publicamente o montante da sua remuneração quando deixou o Stellantis.

Quanto aos automóveis eléctricos, é igualmente incisivo: na sua opinião, a União Europeia "cometeu um grande erro" ao tentar impor demasiado depressa o automóvel elétrico de 100 %, abrindo assim uma avenida aos fabricantes chineses.

Uma visão lúcida, por vezes amarga

Um ano depois da sua saída, Carlos Tavares não parece ter virado a página da indústria automóvel, mas antes ter procurado aprender com ela. Nas suas palavras, a paixão pelos automóveis mantém-se, tal como a revolta perante um sector que considera ter sido "entregue à política e à burocracia". E se o seu livro se intitula "Um piloto na tempestade", talvez seja porque, mesmo sem volante, Tavares continua a observar a estrada com um olhar de piloto.

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3 críticas em "Carlos Tavares donne sa vérité suite à son licenciement de Stellantis « l’industrie automobile est d’une extrême violence »"

  1. Como sempre, cada um tem as suas ideias. CT é um entusiasta, mas parece esquecer que na realidade o 80% do sector automóvel é apenas um negócio como os electrodomésticos! Basta ver porque é que DeMeo deixou a Renault... vai para o sector do luxo, onde ainda não é apenas um negócio.

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  2. O problema da gestão de Tavares está patente na produção do C3 e do Grande Panda: estes modelos estão cheios de bugs e alguns deles terão de ser re-desenvolvidos para conseguirem vendas decentes. A redução de custos é muitas vezes muito dispendiosa...

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  3. O automóvel é um objeto de consumo como qualquer outro, e isso é verdade. A maior parte dos condutores fica satisfeita por andar de carro, mas os que têm um verdadeiro interesse por automóveis são uma minoria. Muitos compram um ecrã multimédia XXL com o maior número possível de ajudas à condução, sem qualquer preocupação com o prazer de condução.
    A marcha forçada para os veículos eléctricos beneficiou os automóveis chineses mais baratos, mas a Europa está em vias de regredir, pelo menos no que diz respeito às datas.
    Tavares deixou um registo desastroso para a maioria das marcas Stellantis, devia ter vergonha.

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