CEO da Stellantis: "Os pressupostos sobre os automóveis eléctricos estavam errados, por isso ouvimos o mercado e revimos a nossa estratégia".

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Antonio Filosa não é, de facto, um homem de poucas palavras. Um mês depois de ter criticado regras europeias consideradas "más" para a indústria automóvelo diretor executivo da Stellantis aproveitou a Goldman Sachs Industrials & Autos Week para admitir claramente o que muitos construtores pensavam sem se atreverem a dizê-lo: as previsões internas sobre a transição para os veículos eléctricos estavam simplesmente erradas. E o grupo já reorientou profundamente a sua estratégia.

"Alguns pressupostos estavam errados

Questionado sobre a trajetória americana e europeia da Stellantis, Antonio Filosa reconheceu uma grande discrepância entre as projecções internas feitas nos últimos anos e a realidade do mercado. No passado, o Grupo previa uma penetração dos veículos eléctricos no mercado americano de 50 % até 2030. Atualmente, o mercado ainda não ultrapassou a marca dos 6 %. Quanto à Europa, a ideia de atingir 100 % de veículos eléctricos até 2035 parece agora demasiado otimista, tendo em conta a procura real e o poder de compra. "Alguns pressupostos estavam errados, mas ouvimos o mercado", assume. No espaço de quatro meses, a Stellantis diz ter reformulado a sua estratégia de produto e de investimento.

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Os híbridos voltam a ser uma arma estratégica

E o exemplo mais evidente vem dos Estados Unidos. Considerado durante muito tempo como a pátria natural dos veículos eléctricos para Stellantis, o mercado norte-americano está a redescobrir os híbridos... e até os V8. O regresso do motor Hemi às pick-ups Ram provocou um terramoto comercial: dez mil encomendas em vinte e quatro horas, cinquenta mil em seis semanas, ao ponto de a produção ter de duplicar. Filosa está agora convencido de que os híbridos, e em particular os híbridos simples, se tornarão uma das tecnologias preferidas dos automobilistas americanos.

O sucesso da Ram V8 não é um acaso. O novo Jeep Cherokee, completamente redesenhado depois de "ouvir os consumidores", chega ao segundo maior segmento dos Estados Unidos, onde pretende desempenhar um papel estruturante. Para Stellantis, trata-se de um exemplo perfeito de reorientação do produto em função da procura e não de dogmas regulamentares ou de marketing.

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Os Estados Unidos abrandam, a Europa interroga-se

A dinâmica americana é tanto mais promissora quanto é acompanhada por uma importante mudança política. A administração Trump acaba de flexibilizar as normas CAFE, dando maior flexibilidade aos fabricantes. A Filosa vê nisto uma oportunidade para reequilibrar o mix de produtos e captar uma nova procura que não existia há dez meses.

Na Europa, o ambiente é muito diferente. Bruxelas está a preparar um novo pacote regulamentar, há muito aguardado, mas ainda não há sinais de uma flexibilização imediata. Filosa apela mais uma vez a uma transição energética "equilibrada e suave", sublinhando que uma equação razoável deve ter em conta três pilares: a proteção do ambiente, a preservação do emprego e a acessibilidade dos preços.

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Além disso, põe em evidência um facto frequentemente ignorado: as necessidades dos veículos comerciais ligeiros diferem profundamente das dos veículos particulares. Os elevados custos de exploração dos veículos eléctricos neste segmento tornam indispensável a adaptação das normas, abrindo-se simultaneamente a tecnologias alternativas como os combustíveis sintéticos. Isto contrasta com as posições mais rígidas adoptadas nos últimos anos (100 % elétrico, hidrogénio, etc.).

Mudança de método e revisão da estratégia

Embora Filosa pareça estar a tomar uma posição ofensiva em relação à direção tecnológica da empresa, é muito mais cauteloso em relação à sua situação financeira. O CEO afirma que a Stellantis está em linha com as suas previsões no final de novembro, mas reconhece que a prioridade é voltar a gerar fluxos de caixa positivos. Serão necessários mais alguns meses de progressos trimestrais para solidificar os fundamentos.

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O Dia do Mercado de Capitais, agora agendado para entre maio e junho de 2026, revelará o novo plano estratégico do Grupo. Este prazo suplementar demonstra a determinação da direção em reconstruir um plano realista, baseado em pressupostos revistos e numa compreensão mais clara do mercado. Uma maior disciplina nos lançamentos, um melhor controlo das existências e uma subida de gama nos segmentos rentáveis deverão ser as principais alavancas desta recuperação.

Uma nova era para Stellantis?

No espaço de algumas semanas, António Filosa terá imposto uma clara mudança de direção: fazer regressar Stellantis a uma estratégia alinhada com a procura real, a diversidade dos mercados e os imperativos económicos do momento. Uma abordagem que contrasta radicalmente com a do seu antecessor Carlos Tavares, mais orientada para uma transição eléctrica acelerada.

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Ao reconhecer publicamente que certos pressupostos estavam errados, o CEO está a enviar um sinal raro no sector: o de uma empresa preparada para corrigir rapidamente o seu rumo em vez de sofrer as consequências de uma estratégia rígida. O mercado americano já está a reagir positivamente. A Europa, pelo contrário, continua à espera do quadro que lhe permitirá respirar de novo. Se Bruxelas abrandar a sua visão, Stellantis promete investir mais no continente. Caso contrário, o jogo poderá ser jogado noutro lugar... onde os consumidores ditam o ritmo e não a regulamentação.


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1 críticas em "Le CEO de Stellantis : « les hypothèses sur les voitures électriques étaient erronées, nous avons écouté le marché et revu notre stratégie »"

  1. Não há nada de novo debaixo do sol. A Filosa é um dos clientes do Trump, por isso ele está-se a cagar para o futuro do ambiente. Em suma, ele vai realinhar a Stellantis para vender V8s para os EUA. Quanto aos italianos...

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