
Há já vários meses, Maserati encontra-se numa zona de turbulência da qual se esforça por sair. Os números de janeiro a agosto de 2025 confirmam uma tendência preocupante: a marca do tridente continua a cair, apesar de algumas excepções isoladas em certos mercados. Enquanto se aguarda o famoso plano de recuperação anunciado para o final de 2024, mas ainda não tornado público, a Maserati está a viver um período crucial que nos pode fazer lembrar os dias negros do início da década de 2010.
Números que falam por si
Nos primeiros oito meses de 2025, a Maserati registou 5.537 automóveis nos 10 principais mercados, menos 28 % do que em 2024. Em pormenor, a tendência é quase universal:
- Estados Unidos: 2.288 unidades (-34 %). Já em dificuldades, o maior mercado da Maserati deverá ser ainda mais enfraquecido pelos impostos de 15 % anunciados por Donald Trump sobre os automóveis importados.
- Itália: 1.302 unidades (menos 22 no 1T3). O mercado nacional também diminuiu, apesar de julho e agosto de 2025 terem sido menos desastrosos do que o esperado.
- Japão: 512 unidades (menos 37 no 1T3), prova de um colapso brutal na Ásia.
- Reino Unido: 217 unidades (menos 33 %), Suíça: 134 unidades (menos 46 %), Austrália: 192 unidades (menos 31 %), Turquia: 140 unidades (menos 25 %), Espanha: 176 unidades (menos 20 %).
- França: a exceção, com 73 unidades (+26 %)... mas numa base de volume anedótico.
- Alemanha: a única surpresa verdadeiramente positiva com 503 unidades (+33 %). A recuperação deve-se a um mês de julho excecional: 34 GranTurismos, 42 Grecale e... 27 Levante matriculados, prova de que os stocks adormecidos de SUV continuam disponíveis.
No entanto, estas disparidades não alteram a tendência geral: a Maserati está a perder terreno em quase todos os seus principais mercados.
O peso dos erros do passado
Se a Maserati está onde está hoje, não é apenas devido a uma conjuntura económica desfavorável. Acima de tudo, a marca continua a pagar pelos erros estratégicos do passado. Na sua vontade de se tornar uma marca de volume, a Maserati deu um passo que talvez não fosse o seu. O seu auge, com mais de 40.000 vendas em 2016 e depois mais de 50.000 em 2017, está agora a revelar-se mais uma miragem do que um modelo a ser replicado. Para uma marca de luxo, atingir tais números significava afastar-se da exclusividade... e enfraquecer a sua imagem.
A este ritmo, a Maserati poderia cair para níveis de 6.000 unidades por ano até 2026, comparáveis aos registados em 2012, antes do grande surto de crescimento.
Ainda se aguarda um plano de produto
Oficialmente, a Maserati deveria apresentar um plano de produto "estruturado e vigoroso" antes do verão de 2025. Internamente, o plano existe, mas não foi partilhado com todas as equipas. Por conseguinte, os nossos clientes, concessionários e entusiastas continuam à espera de anúncios concretos.
Entretanto, a Maserati mantém-se fiel ao que faz melhor: carros com um design tipicamente italiano, provavelmente entre os mais bonitos do mercado. Mas o problema está na tecnologia. A Ferrari e a Lamborghini já estão a desenvolver híbridos plug-in de alto desempenho. A Maserati, por outro lado, não deverá oferecer um até 2027.
Por outras palavras, é provável que os próximos anos sejam particularmente longos. 2025 poderá marcar um novo mínimo, e 2026 promete ser igualmente difícil.
O que é que o futuro reserva à Maserati?
A questão é agora existencial: o que é que a Maserati quer ser amanhã?
- Uma marca de luxo como a Porsche, capaz de vender mais de 300.000 carros por ano?
- Ou uma marca ultra-exclusiva, como a Ferrari e a Lamborghini, que se contentam com 10.000 a 15.000 unidades, mas com uma rentabilidade extraordinária?
A incerteza mantém-se. O que é certo é que em 2027, quando as novas gerações de motores electrificados chegarem finalmente, a Maserati terá a oportunidade de recuperar. Por enquanto, a marca sediada em Modena está a limitar os danos e a cerrar fileiras. Mas o seu futuro está claramente em jogo agora.