
A sentença é assinada por Luca Napolitano, chefe do Lanciana apresentação oficial do novo Lancia Ypsilon HF em Balocco. Só isto resume a aposta arrojada da marca italiana: vender menos, mas vender melhor.
Uma nova geração que muda tudo
Longe vão os dias do velho Ypsilon, um carro urbano chique mas rústico produzido em Tychy, na Polónia, com base num Fiat envelhecido. Nessa altura, o preço de entrada começava nos 17 650 euros e vendia-se como pão quente no mercado nacional: só em Itália foram vendidas mais de 24 000 unidades no primeiro semestre de 2024.
Com a nova geração de Lancia YpsilonCom uma nova plataforma eCMP, produção deslocalizada para Saragoça, em Espanha, grupos motopropulsores híbridos e eléctricos e uma clara evolução para uma gama superior, o Ypsilon Hybrid mudou tudo. O resultado é um Ypsilon híbrido que começa nos 25.000 euros, sem desconto. A Lancia não esconde este facto: A marca afirma que gera duas vezes mais receitas com cada modelo vendido do que com o modelo anterior.
Vender melhor, mas muito menos
Problema: os clientes seguem-no, mas com cautela. Nos primeiros seis meses de 2025, a Lancia registou 5.367 Ypsilons em Itália e apenas 981 unidades em França, Espanha, Bélgica e Países Baixos. Total do semestre: 6.348 unidades. Para que conste, o modelo antigo teve um desempenho quatro vezes melhor em Itália durante o mesmo período, com mais de 24.000 registos.
É certo que as margens melhoraram, o cabaz de compras médio aumentou e a direção está satisfeita: "Cada novo Ypsilon é como dois antigos em termos de vendas". A proporção de vendas de versões topo de gama ultrapassa os 50 %, o mix electrificado é o dobro da média do mercado e a base de clientes está em expansão: +60 % de novos negócios, com clientes provenientes da Toyota, Audi e Volkswagen. O equilíbrio entre os géneros também está a mudar: outrora dominado pelas mulheres (70 %), o Ypsilon agrada agora tanto a homens como a mulheres.
Uma estratégia premium que se confronta com as realidades do mercado
Mas a realidade no terreno é mais complexa. Em Itália, o Ypsilon oscila entre 600 e 800 registos por mês. Desde maio de 2025, desapareceu mesmo do top 50, depois de ter ultrapassado brevemente o Audi A1 e o Suzuki Swift em abril.

Noutros mercados europeus, o avanço foi tímido: no primeiro semestre de 2025, apenas 389 unidades em França, 410 em Espanha, 106 na Bélgica e 76 nos Países Baixos. O seu posicionamento premium, o grupo motopropulsor totalmente híbrido (ou elétrico) e o preço de base de 25 000 euros colocam-no face a uma concorrência mais acessível, como o Peugeot 208 (17 200 euros) e o Renault Clio (19 000 euros) na versão a gasolina.
Descontos e versões para arrancar com a máquina
Consciente da compressão dos preços, a Lancia está a reagir: em Itália, uma operação de venda baixou o preço para 19.900 euros, sujeito a financiamento, o que representa um desconto de quase 5.000 euros. Mas, para já, esta medida limita-se ao mercado italiano.

Acima de tudo, a marca conta com os seus novos modelos para fazer furor: o desportivo Ypsilon HF elétrico de 280 cv, para ressuscitar o mítico emblema. Existe também uma versão HF-Line, mais sensata e mais económica, para aqueles que querem o estilo sem o orçamento de um verdadeiro HF. No futuro, estará também disponível uma versão não híbrida, apenas para Itália, com um preço de entrada mais baixo.
Entre a ambição e a realidade: a aposta da Lancia
"É um desafio", admite a equipa de gestão. "Passar de um único modelo para uma gama de três modelos, de Itália para a Europa, com um posicionamento premium, leva tempo... e resiliência."
É uma aposta feita no fio da navalha: menos volume, mais valor. Mas só se o novo Ypsilon, apesar das suas inegáveis qualidades, encontrar finalmente o seu lugar num mercado de veículos citadinos onde o preço continua a ser, mais do que nunca, o rei dos argumentos.
Fazem o dobro da margem, mas vendem 4 vezes menos.
Não é preciso um doutoramento em matemática...